É uma benção quando um poeta que já fez de tudo com as palavras pode continuar fazendo muito mais, ou melhor: o que bem lhe der na veneta, livre, com graça, com assombro, com sutileza, com inteligência, com perspicácia.
Neste conjunto de poemas Ricardo Aleixo cria cenas imaginárias, que podem acontecer nas ruas, dentro de casa, na sala de visitas de uma cadeia, atrás de uma árvore nos fundos da escola ou na própria imaginação – terreno mais fértil de todos, onde se plantando, tudo cresce e floresce.
Com habilidade de um mágico, o poeta esconde seus truques para revelar somente o espanto, a surpresa, o inesperado, diante dos olhos fascinados da plateia.
Corta a frase no momento certo, suspende a palavra no instante do bote, sugere uma atmosfera em vez de explicar o ataque da fera.
Assim, assistimos a cenas quase corriqueiras – como a da menina com a inscrição na camiseta:
“quem não ousa não goza” – cobertas pela fina névoa daquilo que se chama vida: a minha, a sua, a de todos nós.
E o que seria a poesia senão a vida pulsando em palavras, com liberdade, graça, assombro, sutileza, inteligência, perspicácia? 

Ademir Assunção