Penso que, de modo geral, a melhor História Regional é elaborada por naturais da terra em tela, pessoas em cujo sangue pulsam tradições e sociabilidades que caracterizam o lugar. Nossa
autora é itabirana legítima, da gema, e, neste volume, seu espírito de pertencimento à cidade se faz sentir em cada página. As pesquisas de fundo envolveram árduas tarefas de garimpagem e consulta junto a uma colossal e variada massa documental pertinente ao passado em pauta. O resultado é um exemplo salutar de como se pratica o ofício da História. Forjas e espaços de liberdade conduz o leitor “porta adentro” dos lares chefiados por indivíduos ligados à produção ou à transformação do ferro. Apresenta-nos às famílias que nestas casas residiam e nos permite entrever hábitos cotidianos. Emerge destas investigações aquilo que pode ser considerado a “comunidade do ferro”, com suas convivências, seus padrões de parentesco e de formação familiar sanguínea e fictícia, suas religiosidades, entre outras facetas da vida itabirana oitocentista. Também é possível deslumbrar como forjas e oficinas chegaram a moldar, pelo menos em parte, a configuração física e social da urbe, seus bairros e entornos. Ademais, a obra nos oferece uma análise do lugar do território batizado como Minas do Ferro no contexto dos desdobramentos das histórias regional, provincial, nacional e internacional do século XIX.
Douglas Cole Libby
Professor do Departamento de História
Universidade Federal de Minas Gerais
FORJAS E ESPAÇOS DE LIBERDADE NAS MINAS DO FERRO
Maura Silveira Gonçalves de Britto
15,5 X 22,5 - cm - 556 páginas