É uma narrativa idílica, lendária, fantasmagórica que, em um rico jogo intertextual, dialoga com os mitos indígenas, com os contos de fadas e se aproxima do realismo fantástico, corrente literária da segunda metade do século XX.
Escrita em prosa poética, a obra resgata o modo de vida do povo simples do interior, com seus valores, suas crenças e suas práticas cotidianas repletas de sabedoria e inteligência. Em meio a poesia, entre pitadas de humor e medo, há o entrelaçamento com a cultura do povo índio e as temáticas convivem na procura de um caminho que reavalia as matrizes, o respeito e conhecimento de ambas. Tudo isso, porém, é apresentado com leveza e clareza, pois o autor cria espaços iluminados pela aura que emana dos personagens e da beleza de suas ações.
Logo nas primeiras páginas, são abertas as cortinas do clã de Seu Quindim e Dona Lena e uma tela imensa se abre para o leitor mergulhar no universo da família com seus mistérios e segredos e, através dela, tentar decifrar os enigmas de todo um povo. Mas também, equilibrar-se no limiar do real e do irreal, do sagrado e do profano, do sublime e, algumas vezes, do grotesco.
Moheki é um livro que se coloca em um tempo mágico, mas ao mesmo tempo real e encantador, oferecendo aos leitores não um saudosismo gratuito, mas um discurso crítico que se coloca como reflexão dos antepassados e do respeito, muitas vezes negado, aos verdadeiros herdeiros destas terras-brasilis.