“Tragédia Brasileira”. Uma mulher no chão, morta, de
forma brutal, por não ter se enquadrado à vida que um homem
desejou para ela - mas ainda vestida de feminilidade.
Esse poema foi escrito por Manuel Bandeira, um dos
maiores poetas de língua portuguesa. E por que ele se atreveu?
Havia grandes escritoras na época (Pagu, Gilka Machado,
Henriqueta Lisboa), que certamente poderiam falar
de feminicídio com muita propriedade, por que o Manuel
quis falar sobre isso?
Porque um escritor não se revela apenas diante dos temas
clássicos — como a loucura ou o amor — mas diante
daquilo que o toca. Mesmo que Bandeira não andasse
pela rua com medo de ser violado, espancado ou morto, o
feminicídio o atingia. A brutalidade contra a mulher não é
uma tragédia feminina. É uma tragédia brasileira — e ela nos
atormenta a todos, ainda que em formas e escalas distintas.
Ler a coletânea “Vozes Libertas” é entender que a violência
que alcança essas escritoras merece muito mais que
uma reportagem sensacionalista em um pedaço escrito, falado
ou visível de jornal. É perceber que estes atos também
estão nas angústias, na privação patrimonial, no desprezo,
no silêncio obrigatório. E é, para nós, homens, uma oportunidade
de entender que a violência não se limita a elas.
Luca Creido
Delegado de Polícia Civil
Escritor
VOZES LIBERTAS
Biláh Bernardes