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Causos e pães de queijo recheados de uai, sô!


Prosa de mineiro é mesmo recheada de uai. Uai, sô! E, para dar um dedinho de prosa, com café e pão de queijo no imaginário das varandas, sob a fresca da tarde, venho contar com muito contentamento sobre a segunda edição do meu livro Contos de Mineiro, Uai, Sô!.

Depois de cerca de dois anos da primeira edição, a obra já trilhou por muitas memórias dos leitores que, ao lerem os contos, lembram-se de mais uma história acontecida lá na terrinha deles, da infância, dos pais, dos avós, dos compadres e de toda espécie de gente que sempre tem uma história para contar. Afinal de contas, viver é uma forma de contar sobre as nossas presenças no mundo, tal e coisa e coisa e tal.

O livro é composto por 27 contos que entremeiam causos metade acontecidos, metade inventados, metade acrescentados, conta que na matemática deixa dúvidas sobre a sua soma final. Mas é justamente aí que o livro pega o leitor pelo pé, ou pela mão, pelos olhos, pelos ouvidos, como preferir, pois é começar a ler e não querer parar mais. A leitura pode até ser dividida em um conto para cada dia viajando nos lombos arredondados das montanhas mineiras, numa linguagem pincelada de humor, poesia e afeto. É também um museu literário de paisagens humanas, tantas peculiaridades carrega cada protagonista, cada qual com sua trama, mas no final das contas, todos eles trazem a porção comum da espécie humana com suas características universais. Para falar do livro, arrisco-me a citar, por empréstimo, uma famosa frase do escritor russo, Léon de Tolstói: “se queres ser universal, começa por pintar a tua aldeia”. Nesse caso, a pintura é feita por palavras que contemplam o espírito de mineiridade ao retratar em suas histórias a identidade cultural do povo mineiro, seu patrimônio linguístico, a religiosidade, a cultura popular, os costumes, as paisagens naturais e humanas.

Os contos são no estilo de causos em que o toque de humor sutil permeia os personagens e as tramas, assim como a tristeza e a alegria presentes no psiquismo humano. Tem a figura do caipira que revela em sua cultura a ligação do homem, em sua dimensão arquetípica, com a natureza circundante e, também, com a própria natureza humana. Essa vivência é manifestada na forma de os personagens perceberem e revelarem o mundo através de sua linguagem, seus pensamentos e seu modo de viver.

Quer saber por onde andam Isabel e Isabelita? Ou conhecer o gigante Eleotério? Talvez montar um presépio com as meninas Ciana e Geralda? Que fim foi dado às terras de D. Papuda? Ah... meu Deus! E aquela tigela de mandioca cozida que a visita comeu toda sem deixar nem uma lasquinha para os da casa? A Clementina morreu foi de que mesmo? Quem encheu a bota de Nonô com canjica, heim, quem foi? Como é mesmo a receita de pirão de mocotó de boi? Só mesmo lendo os Contos de mineiro, uai, sô! para ter respostas a tantas indagações. Enquanto isso, vamos comendo pão de queijo e deixando que as histórias povoem o nosso imaginário.

A segunda edição de Contos de Mineiro, uai, sô! foi autografada no estande da Páginas Editora, na Flitiradentes – Feira Literária de Tiradentes, 2022. A obra foi também comentada pela autora na mesa “Minas em conto, verso e história”, com a narração do conto Duas mulheres perdidas no tempo.

O livro traz ilustrações do artista Rodrigo Souto e edição da Páginas Editora.


Delba Menezes

Escritora e narradora de histórias. Graduada em Comunicação Social e Psicologia. Mãe de gatos e de cachorros. Não tenho periquitos nem papagaios, mas tenho muitas samambaias. Autora das obras: Caraminholas de Zé Prequeté (2007); A bruxa que caiu em tentação (2009); Os três Pituchicos (2019) e Três contos em cocorês (2021).

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